Por Lorenzo Paolo Dominiciani
Foto: http://www.flickr.com/photos/karalynnbird
DO OBJETO DA MORAL – O BEM, O BOM, O BELO
O que se pretende com a conduta moral, qual o objeto final do cultivo da moralidade?
Ha inúmeros entendimentos do que seja o objeto da Ética: a felicidade, o prazer, o útil, o progresso social, a repartição equitativa dos bens e direitos, etc. O que há em comum entre eles é que o bom comportamento moral deve prover o bem comum ao mesmo tempo que o de quem o promove, completando-se e estimulando-se mutuamente.
São reflexivos, “simbióticos. Responsabilidade reciproca e igualdade de direitos e deveres entre os indivíduos são pressupostos fundamentais da moral e o resultado disso será o melhoramento do todo social, em benefício de cada um. Dois grandes desafios são que a hegemonia do “bem comum” não venha a oprimir o indivíduo e que este se sinta feliz em moderar por si mesmo os seus impulsos e desejos de modo a não prejudicar o outro e o todo social. Em outras palavras, dever e prazer devem andar pareados.
A filosofia eubiótico, definida como “ciência do bem-viver ou ciência do Bem, do Bom e do Belo”, preceitua que a felicidade é o estado ideal do ser e deve ser realizada nos três níveis: físico, psíquico e espiritual. No sentido eubiótico, toda felicidade, todo prazer que não contiver o menor vestígio de aperfeiçoamento é fictício e ilícito. Tais condições de melhoramento e felicidade, internas e externas (que sempre) apaixonaram os homens, raramente se as levou em consideração todas juntas ou por inteiro, razão de nunca ter existido até agora a verdadeira eubiose”.
O Belo eubiótico é o bem que deriva do prazer estético, do bem-estar orgânico e psíquico e do conforto material. A palavra-chave é felicidade. Refere-se a satisfação das necessidades individuais. Equivale a corrente hedonista, na sua melhor versão, segundo a qual para haver felicidade e preciso um mínimo de recursos materiais, de saúde e também de beleza, não em sua acepção meramente formal mas nela inclusos o deleite da convivência com os entes queridos, o desfrute dos prazeres da arte, da ciência, da filosofia e o conforto da religião.
O Bom diz respeito a esfera psicossocial do ser, que é propriamente o terreno da Ética, tanto na forma clássica, como na cientifica. A Filosofia acadêmica ocupa-se da Moral no âmbito social, o comportamento do homem em relação ao homem. O bem é empírico, prático, realizável.
No terreno do Bom a palavra-chave é dever. Suscita obrigações recíprocas, implica o cumprimento das normas sociais, responsabilidade, livre e prazerosamente aceitas, e aspira a virtude.
Segundo a Eubiose, “A melhor maneira de se comportar na vida e não se preocupar nem com o bem nem com o mal, mas com o dever, pois aquele que neste permanece não tem tempo para ambas as coisas”.
E completa Mira y Lopez: “O dever é uma das pedras angulares da vida civilizada. Sem lei não ha ordem social e sem sanção não há lei válida. Em tal caso, é preferível que a sanção seja interna e adquira valor preventivo a que seja externa e só tenha valor punitivo ou, no melhor aos casos, compensatório”.
O Bem em si, o summus bonum das correntes filosóficas espiritualistas e objeto que somente pode ser tratado a sombra de algum modelo ideal improvável a razão discursiva e praticamente irrealizável na face da Terra. A palavra-chave é perfeição, condição esta impossível para o homem. O Bem supremo dos cristãos é o céu ou o “estado de graça” dos santos; para o budismo e o hinduísmo e o “samadi” ou estado de contemplação estética; para o pensamento neoplatônico é a transformação evolucional do homem em um deus, um mahatma, a realização total do arquétipo divino, o “ser um com o Todo”.
“O Bem supremo – contesta Aristóteles – consiste no exercício da virtude, na vida de razão a que a virtude nos dispõe. A vida contemplativa e a correlativa felicidade suprema são um ideal que o homem raramente alcança; é uma condição quase sobre-humana. Mas mesmo esse grau supremo da prática moral pressupõe a posse moderada de uma fortuna, da saúde, das satisfações familiares, amigos, certo nível social, alguma beleza”. Segundo ele, a felicidade e a finalidade da vida é resultado finico atributo verdadeiramente humano, a razão. As virtudes morais e intelectuais seriam apenas meios para a sua consecução.
Epicuro (341-270 a.C.) corrobora Aristóteles. Para ele, o prazer é o bem máximo, mas não se refere aos gozos materiais, porém aos da cultura do espírito e a pratica da virtude. Tal como os estóicos, preconizava uma vida dedicada a contemplação.
O busílis do modelo de Bem supremo espiritual é a definição da relação entre o Universo e o Homem, que seriam necessariamente teológicos, isto é, teriam uma finalidade e ipso facto, um logos ou razão causa que os criasse e direcionasse para aquela finalidade… e nisso damos em cheio no terreno religioso, onde o: instrumentos de prospecção da verdade são necessariamente a inspiração, a profecia e a revelação, recursos estes absolutamente inadmissíveis no ambiente asséptico da filosofia cientifica, atrelada que esta a razão concreta. Porém… estabelecidas a finalidade do Universo e do Homem e a relação entre ambos, nenhuma dificuldade restaria em definir o Bem: ele seria todo ato com valor moral que contribuísse para aquela finalidade; mau, o inverso.